Quando se olha para o século passado, o pensamento comum é de que as mulheres não tinham nenhuma relação com  a ciência, ou de que caso se tinha, seria muito pouca. Porém, um estudo mais detalhado do assunto feito pela historiadora Mariana Moraes de Oliveira Sombrio comprova justamente o contrário.

A participação das mulheres em expedições científicas no Brasil foi muito maior do que era de se esperar, mas encontrar estes registros e analisar os dados não é uma tarefa simples. Mariana Sombrio iniciou seu estudo sobre as mulheres cientistas em sua iniciação científica e agora, no doutorado, a sua tese ajudará a preencher esta lacuna na história feminina na ciência.
Mariana desenvolveu a pesquisa “Em busca pelo campo: ciências, coleções, gênero e outras histórias sobre mulheres viajantes no Brasil em meados do século XX”  sob a orientação da professora Maria Margaret Lopes, junto ao Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT), do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp.

Em sua iniciação científica e em seu mestrado, ela estudou Bertha Lutz, a qual ficou conhecida na história brasileira por sua militância feminista, mas que era também cientista, faceta pouco abordada – ela tinha os diplomas de botânica e de zoóloga, trabalhando com ciências naturais.  Ao pesquisar  a documentação do CFE (Conselho de Fiscalização de Expedições Artísticas e Científicas do Brasil), referente ao período de 1933 a 1968, Mariana Sombrio levantou as fichas de 38 mulheres que solicitaram licenças para expedições, antevendo nesses registros o mote para o seu doutorado: entender as condições, fatores e estratégias com que elas se inseriram nas práticas de campo. “A maioria era de estrangeiras, como americanas do Instituto Smithsonian e da Universidade de Columbia, bem como da Europa, poucas latino-americanas e também brasileiras autônomas (aquelas vinculadas a instituições como Butantan e Manguinhos não precisavam da autorização)”.
Segundo Mariana, as expedicionárias deste período viveram em ambientes majoritariamente masculinos, mas várias delas produziram pesquisas consistentes e estabeleceram relações com a comunidade científica, numa atuação que ia muito além do papel de assistentes, geralmente reservado a elas.

Em sua tese, três cientistas estrangeiras foram destaque e por isso tiveram um capítulo exclusivo dedicado para cada uma. Estas fizeram do Brasil seus campos de pesquisa: Wanda Hanke, austríaca com formação em medicina, direito e filosofia, que decidiu realizar o sonho da etnologia aos 40 anos de idade, estudando indígenas do Brasil, Paraguai, Bolívia e Argentina, até morrer na cidade de Benjamin Constant (AM); a zoóloga americana Doris Cochram, que veio sozinha para estudar sapos, mas com a ajuda preciosa de Bertha Lutz; e Betty Meggers, arqueóloga também americana que, invertendo os papéis, conquistou fama com uma produção que superou a do marido também arqueólogo.

Mariana Sombrio foi destaque no Jornal da Unicamp (Edição 608) e a matéria publicada sobre o seu estudo contém um resumo da trajetória destas três mulheres.

Para saber com mais detalhes o desenvolvimento de sua pesquisa, bem como a história destas três estrangeiras acesse o link da notícia:  As ‘aventureiras’ que desbravaram o país pela ciência.

Participação feminina na ciência do século passado

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